quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Gadotti (2000) faz uma reflexão sobre as bases do processo educacional com referência à Jacques Delors (1998) e a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida. Os quatro pilares para orientar esse tipo de educação são:

Aprender a conhecer: Prazer de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade, autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe uma cultura geral, o que não prejudica o domínio de certos assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que aprender a aprender. Aprender mais linguagens e metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas "pensar pensamentos", pensar o já dito, o já feito, reproduzir o pensamento. É preciso pensar também o novo, reinventar o pensar, pensar e reinventar o futuro.
Aprender a fazer: È indissociável do aprender a conhecer. A substituição de certas atividades humanas por máquinas acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou de ser puramente instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje a competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar novas situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe, do que a pura qualificação profissional. Hoje, o importante na formação do trabalhador, também do trabalhador em educação, é saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial. Existem hoje perto de 11 mil funções na sociedade contra aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas universidades. Como as profissões evoluem muito rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para um trabalho.
Aprender a viver juntos, a viver com os outros: Compreender o outro, desenvolver a percepção da interdependência, da não-violência, administrar conflitos. Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter prazer no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa é a tendência. No Brasil, como exemplo desta tendência, pode-se citar a inclusão de temas/eixos transversais (ética, ecologia, cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares e trabalho em projetos comuns. Aprender a ser: Desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa. Para isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico-matemática e lingüística. Precisa ser integral (Gadotti, 2000, p 3-11).


A escola, desde as primeiras séries até a universidade, diante desses pilares apresentados, necessita ser reinventada. Como havia feito referência anterior no paradigma emergente dos 4 pilares para uma nova educação, concluí que, a explicação de Gadotti seria conveniente nesse momento. O novo paradigma exige uma postura crítica do ser humano no mundo e diante das problemáticas que surgiram a medida que esse tornou-se cada vez mais complexo. Questões éticas, de valores, de co-existência, tecnologias, trabalho, ambientais, entre outras, estão continuamente exigindo reflexões e ações. A urgência de novos caminhos para a aplicação de uma educação criativa, reveladora do potencial humano não é uma fantasia de sonhadores, opera no sentido da própria sobrevivência do homem no planeta. A escola que não possui essa visão integrada do ser humano em sociedade e não reflete questões envolvidas nas situações familiares e suas implicações na vida acadêmica do estudante, torna-se dissonante na construção de um ser inteiro capaz de assumir seu papel na sociedade de forma equilibrada e responsável. O paradigma inovador emergente tem enfoque no pensamento complexo, na visão de globalidade e holística, no processo sistêmico em redes interconectadas. Existe a busca de uma sociedade mais justa e igualitária.

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo, Cortez, 1998.

GADOTTI, MOACIR. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec., Jun 2000, vol.14, no.2, p.03-11. ISSN 0102-8839

A arte de perder

“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério. “

por Elizabeth Bishop