pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado;
ela saíra agora da voracidade de viver. Clarice lispector
Em 1887, o senhor e a senhora Cassatt foram se juntar às filhas em Paris. Mary gostava da companhia dos pais, apesar de seu pai continuar a implicar com sua escolha de vida. Muito cedo na vida ela tinha decidido que sua carreira e seus objetivos eram incompatíveis com o casamento. Lydia, que tinha saúde frágil e era frequente adoecer, também não se casara. Logo após a exposição de 1881, foi o que aconteceu: Lydia adoeceu e dessa vez, sua mãe também. Mary largou a pintura para cuidar das doentes. Lydia não recuperou a saúde e faleceu em 1882, mas a Sra. Cassatt ficou boa e Mary pode recomeçar a carreira.
Enquanto a maioria de seus colegas Impressionistas se fixava em paisagens e cenas de rua, Mary tornou-se conhecida pelos retratos. Ela gostava, sobretudo, de pintar mulheres em ambientes domésticos, especialmente mães com filhos. Mas ao contrário das madonas e querubins da Renascença, seus retratos eram muito pouco convencionais, diretos e fieis à realidade. Uma conhecida estudiosa das Artes Plásticas, a americana Gemma Newman, observou que “o objetivo de Cassatt era demonstrar a força e não a doçura das mulheres; a vida real, e não o sentimentalismo ou o lirismo”.
Morro para tudo que não fui e tudo aquilo que não escolhi.
Quantas vidas não conhecerei? Quantos “eus” não saberei.
Cada minuto é um enterro, em cada piscar um morto.
Morro de mim incessantemente a cada idéia nova e a cada memória perdida.
fica um pouco de mim por onde passo, como fotografias soltas no chão. São corpos na estrada.
Não sou nem os cadáveres que ficaram, nem este que aqui está.
Sou uma escolha que escolhe mesmo nada fazendo.
Sou todos os caminhos que deixei de optar na estrada.
Sou a soma todas as vidas que morri. Infinitas mortes. Em infinitos mundos agora tão distantes.
Se escolher é viver não ter escolhido é morrer.
Só podemos fazer uma escolha por vez, mas “não escolhemos” infinitas escolhas de uma vez.
Por que são infinitos os caminhos, mas é única a escolha.
Mais morro que vivo. Sou um morto de possibilidades.
Morrem minhas crenças para que outras surjam
morre minhas células para que outras vivam.
Morre todos os amores de todas as mulheres que não amei para que uma floresça.
A cada letra que escolho deste texto morto, milhares de palavras não escolhidas são enterradas nos silêncio das frases não ditas.
Infinitas são as letras que não optei a cada instante que você lê estas palavras.
Eu morri para todas estas poesias.
Morri para os livros e para as bibliotecas.
Morri para a grama no parque, chapinhas em poças d’água.
Morri para o beijo que não te dei ontem e para as cerejas nos copos não bebidos.
Morri para os gritos e as declarações de amor.
Morri para tua mão sobre a minha e para o teu rosto no meu peito.
Morri para o cheiro podre e para o perfume que não usou.
Morri para o vestido branco que nunca teve e para o susto no espelho.
Morri para a falta de tempo de estar contigo e para todo o tempo que eu estive comigo.
Morri quando eu dormia, morri quando tu acordavas.
Morri para todos os teus sorrisos e lagrimas em todos os teus anos até aqui.
Morri para o teu passado morri para o meu futuro.
Morri de livre arbítrio.
Mas hoje, agora, neste momento, que já passou em dias, eu escolhi morrer para tudo apenas para estar com você.
Minhas mortes me levaram até aqui.
Assim como um herói que sacrifica inúmeras vezes sua vida para colher um breve momento eu morri para viver estes instantes com você ao teu lado.
Por que são destes momentos que nasce a vida,
e são destes instantes que se faz uma existência.
Esta afirmação está no Livro de Eclesiates, comenta-se que os sábios escritos sejam de autoria do Rei Salomão. Mas, a parte da questão de autoria, este Livro da Bíblia é um dos mais interessantes que já li. A frase acima me prende a atenção há alguns anos. Penso sempre naquilo que não é vaidade? Quase tudo que fazemos, nos moldes da sociedade contemporânea, são motivados pela vaidade. O que quero aqui neste blog? Ser lida porque me sinto capaz de dizer algo interessante e bom para as pessoas que me cercam, ou ainda, pela vaidade artística? Quero ainda pensar que escrevo porque preciso, para viver mesmo! A leitura e escrita arrebentaram cedo em minha vida. Arrebentaram, assim mesmo, como o mar na rocha. Eu sou como a rocha que responde e devolve com a mesma força a água para o mar. Mas, outras vezes, sou o mar que quer atingir a rocha e modificar sua constituição. Quero eu, se almejo alguma coisa a mais nesta vida, ser como o céu. Não quero mais ser rocha ou ser mar. Ser arrebentação. Quero ser o céu infinito e ir além, não pela vaidade, sim por um sentimento de reencontro com as infinitas possibilidades de ser UNO novamente. A vaidade nada me traz ou trouxe de importante. Aliás, além deste passeio no Livro do Eclesiastes, leiam também o Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde e reflitam no quanto este sentimento pode nos corromper. Infelizmente para nosso próprio prejuízo.Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz
Um dos lugares mais legais que visitei em Porto Alegre foi a Casa Mário Quintana. De frente para o seu quarto naquela casa-hotel fiquei tão comovida com seus pertences ali todos deixados como na última vez que esteve "vivo" por lá. Chorei um pouquinho, mas, um sentimento de alegria me tomou por estar ali e compartilhar aquela aura poética... Amei tanto o lugar que resolvi almoçar por ali mesmo no terraço do hotel num simpático bistrô. Se forem a Porto Alegre visitem este lugar e se entreguem a este momento com inteira devoção ao poetinha!!!
Adélia Prado
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Obra de tarsíla do amaral - manteau rouge