terça-feira, novembro 18, 2008

Tecnologias e Educação

Fiquei por um bom tempo sem postar pois, estou no processo final de meu mestrado. Isto demanda tempo e muita leitura impossibilitando dedicação a outras ações. Hoje, entreguei o material para avaliação da Banca de Defesa e logo tudo se normaliza.
Minha área de pesquisa são Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação. Dentro deste tema me aprofundei muito na questão da Ética e Estética na transmissão do conhecimento. Certamente muitas discussões trarei para este espaço. Quero lançar apenas uma reflexão sobre o tema valores humanos. As TICs são ferramentas que não subtraem a responsabilidade do professor, pais, adultos na transmissão de valores genuinamente humanos que elevem a vida e permitam a convivência pacífica entre os seres. Precisamos sim, recuperar esta condição de transmitir via meios tecnológicos a empatia pelo humano. O desprezo às relações não pode ser transferido para essas potenciais ferramentas para educação. Não seria justo com nosssas crianças deixar aos vendedores de ilusões estes meios de expressão. Apropriar-se da tecnologia não nega a relação dual do Eu e do Tu, implica sim, na descoberta de novas formas de linguagem que possibilitem a descoberta, a criatividade e despertem o Belo, o Bom e o Justo. Como Paulo Freire proclama, educar requer uma certa dose de sonho e utopia!

quinta-feira, setembro 25, 2008

As crianças, atualmente, crescem envoltas em situações de violência e desprezo a vida humana. A violência sempre existiu entre homens, em suas guerras, em sua vontade de poder e domínio. O sonho de uma humanidade em perfeito equilíbrio, talvez, seja utopia. Mas, parafraseando Paulo Freire em sua Pedagogia da Autonomia, eu quero acreditar na utopia e tenho direito de acreditar. Chamo atenção para uma pequena coisa que nós adultos já não ensinamos às crianças, o brincar. Simples, contudo, exige uma postura desapegada e de entrega. O brincar permite repassarmos nossos valores, ensinarmos regras, aprende-se muito sobre a emoção, a derrota, o recomeçar, a alegria, em tudo traz algo que favorece o crescimento saudável do ser. Brincar é oportunizar aprendizados, mas também, oportunizar leveza, riso, união porque compartilha diferenças.
"Um Jabuti para o Giramundo"
Renata Meirelles e o seu livro Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil, editado pela Terceiro Nome, e
apoiado pela Aliança pela Infância, acabam de ser premiados com o terceiro lugar no mais importante concurso literário do País, o
Jabuti.

O livro registra a aventura de uma pesquisa realizada durante vários anos entre crianças e adultos em diversas regiões do Brasil,
mas principalmente na Amazônia. São mais de 30 brinquedos e brincadeiras artesanais ou ao ar livre, nos quais a autora descreve
a maneira de brincar e ensina, passo a passo, a confeccionar os brinquedos. A obra recebeu o prêmio na categoria Educação,
Psicologia e Psicanálise.

Mais um reconhecimento de que o brincar simples e espontâneo da infância não estão só na lembrança.
Recebido por email em 25/09/08 de Aliança pela Infância - Gisele

terça-feira, setembro 16, 2008

Matéria de GD

Hoje li algo muito interessante na coluna de Gilberto Dimenstein, como estou envolvida em pesquisas na área de Educação e Novas Tecnologias repasso o link para leitura dos interessados no assunto. Vale a pena!!! Boa leitura!!!
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/gilberto/gd050801.htm

Abraços e até a próxima postagem!

Cristiane Maria

sábado, setembro 06, 2008

Perspectivas

Há quase 2 anos mudei minha trajetória profissional, me despedi da área empresarial e gestão humana para o campo educacional. Tenho pesquisado e construido novos saberes, mas, um fato que me chama atenção é a a falta de perspectiva das pessoas mais jovens. Pessoas em seus 14 anos deveriam estar projetando sonhos, sorrindo, brincando... Dos relatos que tenho ouvido em uma das atividades que desenvolvo é o desperdício de vida, potencial, afetos... O que está acontecendo com essas pessoas? O contexto familiar que estão inseridos é árido, desinteressado. Me vejo diante de uma mãe defindo sua filha como relaxada, desinteressada, agressiva e pouco respeitosa. Pergunto perplexa, o que deu errado então? A senhora quis isso para sua filha? A mâe evasiva diz nâo entender... Insisto, você gosta de ser mãe, você realmente gosta disso? Ela cala-se... Como não consegue ver nada de bom em sua filha? Em risco de ser dura ao dizer... mas, mesmo assim digo. Me parece que estão dando descargas nesses jovens, antes do projeto político-educacional, no projeto familiar. No trato com as mulheres pergunto mil e uma vez, por que teve filhos então? NÃO SABE DO PRÓPRIO DESEJO! Foi algo sem clareza, sem percepção futura, arrisco, sem amor. Foi porque se tem filhos, é normal. Mas educar em valores é outra esfera, exige gente de coração aberto, gente de fibra e caráter. Amar, antes de tudo, é um exercício diário, na troca de fraldas, na estimulação da pele do bebê, no abraço, nos encontros para as refeições... Cheguei ao cúmulo de apresentar a uma garota de 13 anos um amor perfeito, que não conhecia mesmo estando a cidade cheiinha deles... Uma mãe não ensina mais esses detalhes as suas meninas... a delicadeza, o enfeite... o aconchego? Quem recebeu amor, tem a segurança de lugar para voltar. Quem nada recebeu, pouco se importa se existe mais alguém para usufruir do espaço social construido pela coletividade.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Acidentes acontecem?

Em pesquisa para minha dissertação de mestrado, estive em visita a um grande hospital no seu setor de pediatria (queimados, ortopedia, neurologia...). Fiquei impressionada com as causas de internção hospitalar das crianças, principalmente, nos setores queimados e ortopedia. Acredito que muitos não suportariam ver aqueles rostinhos... Acredito também que muitos me diriam loucas as razões de cada uma daquelas quebraduras, queimaduras e outras tantas cenas cheias de dor e acessos venonos! Cabe a todos, como pais, educadores e ADULTOS avaliarmos o quanto colaboramos para que aquelas pequenas crianças sofram tamanho trauma. Ouvir de uma pequena de apenas 6 anos que uma panela de óleo fervente explodiu em seu corpinho frágil enquanto preparava o almoço é soco no estômago... Abaixo segue um site bacana que traz dados e divulga ações de prevenção em relação à acidentes domésticos envolvendo crianças.

http://www.criancasegura.org.br

quarta-feira, julho 30, 2008

Educar em um projeto

Participar nossos valores e projetos aos demais é algo importante. Estive nesse mês na cidade de Porto Alegre em um Congresso de Educação, no qual fomos incluídos no projeto educacional da instituição organizadora. Educação realmente está situada em princípios determinados em uma comunidade que possuí seus valores, sua cultura... É ilusão educar longe de um propósito. IMPOSSÍVEL! Uma das coisas interessantes que foram discutidas está em torno de entender e incluir-se em uma sociedade cheia de contradições. Sem gerar fanatismos e fechar-se em uma única forma de perceber o outro. Ser cosmopolita sem perder a identidade de sua gente! Ser humano em uma sociedade do consumo. Não ser solapado pelo comprar-vender. Todos que se envolvem ou participam do exercício de educar, deveriam refletir sobre seus próprios valores! Educar também é exemplo!!!

quinta-feira, julho 03, 2008

quarta-feira, julho 02, 2008

Afinal de contas

Afinal de contas... tudo não passa de ponto de vista, para os míopes como eu, é melhor que sejamos quase cegos na verdade. Bem, por que digo isso, vocês devem pensar. Porque pensar em algo maior, mais "legal" como dizem os adolescentes, há a necessidade de uma visão bem embaralhada. Assim, não nos assustamos com aquilo que vemos e ainda acreditamos no mundo possível. Sempre fui "ridicularizada" por usar "óculos com lentes cor-de-rosa". Mas, quer saber, recomendo que todos usem. Vejam seus filhos com essas lentes, vejam seus maridos com essas lentes, amigos ou inimigos. Não deixemos que os problemas cheguem ao limite de nossas mentes não suportarem mais. Aprendi a querer as crianças perto por isso... elas enxergam cor-de-rosa e assim vão acreditando e crescendo... quem sabe realizando. Um grande empresário aqui das minhas plagas sulinas me disse que eu era sonhadora. Na verdade, nunca quis despertar! A única vez que fiz isso foi um desastre verdadeiro!!! O sonho é a gasolina da alma!!! Aquele sonho bobo de criança querer voar e... inventam depois o avião. Não questiono a necessidade do desenvolvimento da habilidade e mais ainda do fazer. Contudo, o sonhar é tão necessário para minha alma pelo menos... Tem um filósofo que gosto muito... Ele, depois de tanto agir, questionar e pensar. Se aquietou, continuou escrevendo, continuou fazendo coisas "legais", porém passou a viver graciosamente mantendo-se em harmonia e momentos de contemplação através do silêncio. Bem, o que quero realmente dizer é que educar requer esse silêncio e depois o gesto. Uma professora querida falou hoje algo legal em nossa discussão, precisamos "converter" e não "convencer". Espero amorosamnete que vocês enxerguem um pouco mais os tons de rosa e convertam suas visões em uma máquina prazeirosa!

domingo, junho 08, 2008

Raízes


Sto lat, sto lat,
Niech żyje, żyje nam.
Sto lat, sto lat,
Niech żyje, żyje nam,
Jeszcze raz, jeszcze raz, niech żyje, żyje nam,
Niech żyje nam!

Essa letra descrita acima é uma tradicional canção polonesa que equivale também a canção de Feliz Aniversário que cantamos. É, na verdade, um música de felicitação a quem chega e significa grande respeito a essa pessoa. Essa canção esta em minhas raízes, pois, muito pequena aprendi na casa de meus avós maternos a cantá-la. Não sabia ler ou escrever mas, letra e melodia ficaram em meu arquivo afetivo. Por que falar disso? Porque penso na importância de nossas raízes, saber quem nos nomeou. As palavras são mágicas! Elas nos mostram caminhos ou os fecham... Meus avós, especialmente meu avô, mostrou-me a força e honra talhadas em seu semblante. A avó, o respeito e a doçura do afeto nessa canção da qual nunca esqueci. O que me faz pensar em nossa imensa capacidade de formar lindas pessoas com sons celestiais de boas vindas! Cantar melodias como essa que ouvi na infância e em ocasiões especiais ainda o faço é uma forma singela de dizer SEJAM BEM VINDOS! ESTOU HONRADO EM RECEBÊ-LOS!

quarta-feira, maio 28, 2008

Se você abre uma porta, você pode ou não entrar em uma nova sala. Você pode não entrar e ficar observando a vida. Mas se você vence a dúvida, o temor, e entra, dá um grande passo: nesta sala vive-se ! Mas, também, tem um preço... São inúmeras outras portas que você descobre. Às vezes curte-se mil e uma. O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta. A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos. Os erros podem ser transformados em acertos quando com eles se aprende. Não existe a segurança do acerto eterno. A vida é generosa, a cada sala que se vive, descobre-se tantas outras portas. E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas. Mas a vida também pode ser dura e severa. Se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente. É a repetição perante a criação, é a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores, é a estagnação da vida... Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens!
(Texto retirado do livro de Içami Tiba)

domingo, maio 25, 2008

Sonhar é um ato produtivo


Os sonhos são seus pertences mais preciosos, realizados ou não são seus tesouros. Crê que podem ser transmitidos, acredita na beleza de suas intenções! A imaginação e sonho instigam um ser a realizar. Uma criança vive inserida em suas fantasias lúdicas, em sua criativa imaginação em achar alternativas mágicas para seus problemas quotidianos. Podemos ensiná-la dissernir o que pode fazer realmente sem impedi-la de sonhar, imaginar... Treinar a visão em sua totalidade imaginativa e inventiva. Acertadamente os educadores permitem que a arte esteja na escola dos pequenos, a transformação alquímica que esta realiza no pensamento é surpreendente. Querer um mundo melhor é ensinar a vê-lo melhor. Sonhar é um ato produtivo e não apenas ilusão de mentes alienadas. Sonhar é uma forma de transceder a experiência e atingir a essência humana, seu noos, seu espírito e grandeza.

sábado, maio 17, 2008

Saboreie a vida!

Algo importante é sentir o perfume das coisas... Um prato de comida tem um cheiro especial, os temperos misturados formando um aroma diferenciado... Também as manhãs tem jeitos diferentes de acontecer, cores e odores. O vento, a expressão das pessoas e pequenas surpresas que encontramos até mesmo em uma cidade como São Paulo em meio a um trânsito caótico surge uma linda borboletinha... Assim, com os nossos sentindos, vamos aprendendo a saborear a vida, cada evento, cada gesto.... Vamos aprendendo a ser mais contemplativos, diminuindo a ação e vivendo mais a emoção. Dspertamos nossos desejos adormecidos, entendemos melhor nossas necessidades e carências... É uma forma de nos relacionarmos com a nossa casa, nossa grande casa planetária. Ensinar os pequenos a curtir sua rua, seu bairro, sua cidade... Criar elos de relação entre as pessoas vizinhas. conhecer um pouco das famílias, dos jeitos e valores. Formamos um pequeno ser com percepções mais aguçadas, alguém que saberá dar importância a uma calçada larga, uma praça arborizada, preservar um rio... Assim ensinamos também, o valor de manter boas relações uns com os outros e respeitar a essência de cada um.

quinta-feira, maio 08, 2008


O saber deve ser como um rio, cujas águas doces e grossas, copiosas, transbordam do indivíduo e se espraiam estancando a sede de todos. Gilberto Freyre

A hipocresia de cada um

Mundos paralelos. Me parece que isso está acontecendo conosco, estamos formando mundos paralelos e aprofundando cada vez mais as distâncias entre os indivíduos. Verdades separadas entre camadas sociais, entre possibilidades de consumo, entre oportunidades de conhecimento. Há uma forma muito incoerente entre o que desejamos para nós e o que pensamos do outro. A aperência do outro nos assusta nas ruas de uma cidade grande, mas, a aparência é o resultado de um legado de descaso pelo indivíduo que trabalha e tem renda ou educação em condições insuficientes para lapidar seus gestos e sua imagem. O que é feio aos nossos olhos, incluo os meus, é talvez o reflexo da nossa postura alheia ao que está aí pedindo ou gritando ajuda. Olhar com olhos de beleza para aquilo que parece ameaçador e feio não é simples de conseguir. Andei a pouco por uma região central de uma grande cidade, senti meu coração pulsar dolorido, por medo de uma gente que nada me fez, que tão pouco me olhou... Passos mais adiante entrei em um museu e vi arte... A arte que representava o povo simples, a mulata, a favela... E meu coração acalmou-se. Eram as mesmas pessoas expressas nas obras, as mesmas que vi ali na rua e das quais senti medo. Mas, entre as lindas paredes da galeria me senti culta, bela, feliz... A educação em nosso país passa pela nossa capacidade de aceitar a diferença. Aceitar o legado do descaso e arrancar a máscara de nossa hipocresia. a tarefa maior do educar é possibilitar ferramentas para o indivíduo criar em torno de si novas condições de vida. Educar é uma ato de amor e dever de todos. Educar começa em mim, ao perceber de modo mais belo o que me parece estranho. Educar é um ato político, uma forma de agir em uma sociedade cheia de contrastes com verdadeiros valores humanos.

sábado, abril 19, 2008

O pecado

O pecado

Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo,
Tira o pecado de nós!
Para que tenhamos paz.
O pecado de não conseguirmos, após tantos desenganos, fazermos o nosso bem.
O pecado de não conseguirmos ainda nos libertar. O pecado de não nos permitirmos amar.

O despertar da consciência humana ultrapassa qualquer outro objetivo que possamos buscar em nossas vidas, pois, ele é indiferente à nossa vontade. Se percebermos ao nosso redor o movimento das pessoas e manifestações da natureza compreenderemos, mesmo que minimamente, um sentido alheio àquilo que consideramos nossa vontade racional.
Muitos pesquisadores do comportamento e mente humana procuraram por meio de seus estudos empíricos ou não demonstrar que o homem possuí uma dinâmica de pensamento, condicionamentos, sentimentos, sendo a combinação destes muitos fatores complexos expressão de sua singularidade ou individualidade. Mergulhados em um oceano de informações como pode o homem comum estar integrado com sua busca? Não seria apenas sorte?
A sensação de entrar em uma livraria ou acessar a internet para mim é assustadora. Inundamos a visão com muitas palavras, imagens, sons, rostos... Em meio a tanta informação porque diríamos que estamos sendo eruditos pesquisadores? A impressão é que nos perdemos mais do que antes na escuridão de nossas mentes. O que é nossa mente? Quem de nós já obteve uma resposta da ciência e seus doutores? Eles nos divulgam algo? Em quais prateleiras de universidades devemos pesquisar tais teses que nos expliquem o que somos, ou para que fomos criados. Fomos de fato criados por um Deus?
Abandonados a moralidade das religiões provocamos guerras ideológicas e assistimos muitas outras que afetam profundamente a possibilidade de realização de uma vida pacífica entre povos. Porque não podemos ou não queremos, saber mais de nós mesmos, porque velamos nossa consciência, nosso estado natural de conexão a tudo que está posto.
O que deforma este estado natural de consciência? O homem precisa destituir a si próprio para compreender a criação. A que custo? Quantas vezes o mais simples trabalhador fez esta mesma questão que o grande cientista. Dolorosa destituição esta que não nos permite mais olhar espontaneamente o semelhante, sentir a natureza e essência do ser. A divisão cartesiana também provoca e permite que sejamos vítimas mais de nossas pulsões do que de nossa própria vida. È materialmente palpável o ser para que possa servir espiritualmente a Deus?
Quem de fato é Deus, quais são as regras? Sentimentos oriundos de nossa percepção são estradas iniciais ao caminhante.
Olhar nos olhos de alguém que não o próprio eu reponde a impressão mais profunda de nossa consciência de que há existência. Não somente esta que é palpável, mas, a outra que é sentida através do palpável.

segunda-feira, março 31, 2008

"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro..." Rubem Alves

Educar de forma inovadora demanda uma postura aberta e engajada do educador. Perde-se o sentido das cadeiras enfileiradas, do saber como exclusividade de quem ensina e da utilização de recursos tradicionais de ensinar. A criança e sua energia criadora por natureza é um ser relacional, mas, aos poucos a escola vai retirando dela essa capacidade e levando-a ser individualista. A competitividade interpenetra em sua ação. Mas, o que precisamos atualmente, são seres humanos integrados e vivendo em comunidades responsáveis. Aprender a descobrir valores em suas atitudes, refleti-los em suas ligações sociais e conviver empaticamente é uma forma de modificar uma situação constante de abandono dos sonhos. Abandono porque não é possível sonhar de maneira individualista. Precisamos da colaboração e compromisso entre os pares para concretização de nossas expectativas. Este é um valor essencial da comunidade humana. As crianças devem ser aptas a conviver umas com as outras, sentir as diferenças, questionar e reconstruir suas identidades a partir da partilha. A família não pode mais estar omitida da escola, deve ser participativa. A educação não acontece de modo unilateral ou ambiguo. Somos todos responsáveis por ela! Temos na seguinte passagem uma excelente reflexão:

Fazemos um chamado a favor de um reconhecimento renovado dos valores humanos que tem sido corroído pela cultura moderna: harmonia, paz, cooperação, comunidade, honestidade, justiça, igualdade, compaixão, compreensão e amor. O ser humano é mais complexo que suas funções de produtor e cidadão. Se uma nação, por meio de suas escolas, de suas políticas de bem estar infantil e de seu desejo (vontade) de competição, não consegue sustentar o conhecimento de si mesmo, da saúde emocional e dos valores democráticos, em último termo seu êxito econômico está minado pelo colapso moral da sociedade. Com efeito, isto está ocorrendo, a julgar pela epidemia de drogas e dos problemas urgentes de delinqüência, alcoolismo, abuso de crianças, corrupção política e de empresas, aleijamento e suicídio de adolescentes e violência nas escolas. Teremos de criar seres humanos saudáveis, se queremos ter uma sociedade e uma economia sã. É verdade que o sistema econômico requer que haja força de trabalho bem preparada e de confiança. A melhor maneira de conseguir uma força de trabalho assim, é tratando os jovens em primeiro lugar como seres humanos e em segundo lugar como futuros produtores. Sá as pessoas que vivem de forma completa, sã e com sentido de ser realmente produtivas. Fazemos um chamado a favor de um equilíbrio melhor entre as necessidades da vida econômica e aqueles ideais humano que transcendem o econômico e que são necessários para uma atuação responsável. (Global ALLIANCE FOR TRANSFORMING EDUCATION, 1991)

sábado, março 29, 2008

Da fome

Do que somos feitos
Senão da tentativa
De sermos?
Sermos bons,
Sermos fortes,
Sermos amados,
Sermos desejo ou
Motivo de desejo.
Do que somos feitos
Senão de nós mesmos
Famintos de tudo.

por Cristiane França

Da fome surge o homem e suas infinitas necessidades, a saciedade é um mito. Sempre devorando tudo ao seu redor nada escapa, mas, o que será da humanidade se não encontrarmos limites. Ser feliz nos consome como se fosse impossível chegar ao ponto de equilíbrio. As coisas simples deveriam ser mais admiradas, a saciedade deveria surgir do simples fato de estarmos vivos e podermos amar as coisas pequenas e belas.

quarta-feira, março 19, 2008

J. G. de Araújo Jorge

A poesia causa movimento e através dele nos reinventamos... Vale a pena ler esse, vale a pena conhecer o lado bom de nós mesmos e oferecer isso ao outro...


O LADO BOM

Quero ser uma ilha,
um pouco de paisagem,
uma janela aberta,
uma montanha ao longe,
um aceno de mar.
Quando precisares de sonho,
de um canto de beleza,
de um pouco de silêncio,
ou simplesmente de sol... e de ar...
Quero ser o lado bom em que pensas,
isto que intimamente a gente deseja mas nem sempre diz
- quero ser, naquela hora,
o que sentes falta para seres feliz...
Que quando pensares em fugir de todos ou de ti mesma,
enfim, penses em mim...

terça-feira, março 18, 2008

A arte de viver

Viver, sem sombra de dúvida, é uma arte. Refinamos nossos comportamentos, nossos valores, nosso espírito como um artista inspirado e dedicado em fazer o mais belo dos belos. Mesmo nas mais delirantes expressões somos como artistas ousados buscando a obra perfeita. Sem interesse aqui de discutir religiões, mas, citando o Xintoísmo, acredito na união com a natureza e intimidade com a misteriosa expressão da vida em nós uma forma de despertar a íntrinseca tendência em evoluir. Uma observância serena e interessada dos movimentos da natureza reintegra-nos com sentimentos de respeito, compreensão e tolerância. Nos torna mais calmos e amantes da vida porque nos mostra o quanto há de mistério em tudo que nos cerca. Um mistério que pode, muitas vezes, ser entendido ou revelado. A semente, por exemplo, em sua explosão de vida é um grande mistério. O que a faz explodir para ser alimento, flor, árvore? Penso que a natureza humana é assim: na introspecção e reflexão pode também desabrochar em algo belo. O humano pode ser um movimento divino e expressar infinita beleza.

quarta-feira, março 12, 2008

Já vistes uma cigana girar


Já vistes uma cigana girar?

Da saia vermelha intensa,

Que faz latejar o coração de quem a observa,

Surgem risos, lágrimas, alegria, dor, prazer e medo.

Já vistes uma cigana girar?

Dos pés batendo forte na terra,

Que espantam o mal,

Aflora o amor.

Já vistes uma cigana girar?

Ela sorri para o mundo quando gira,

Nas mãos as palmas te aplaudem e convidam,

Quer que baile com ela!

Vá! Permita-se entrar neste universo.

Não temas, ela é quem faz arder a fogueira que

Ilumina a noite aquecendo a todos a quemconvida a girar.


por Cristiane França

segunda-feira, março 10, 2008

Caminhos possíveis

As conversas sem pretensões, soltas, geralmente nos trazem material oportuno para auto-conhecimento. Em uma ocasião, ouvi um amigo comentar para outro que participava de nossa mesa: a grande sacada da vida é que estamos aqui para nos relacionar, aprender e evoluir através disso. Simples!? Talvez sim na fala, mas, na ação tudo se trona diferente. A sabedoria dessa "sacada" é inquestionável e poucos se dão conta disso. O que impede? Para mim, o que limita o homem é a vaidade. Salomão, filho de Davi, no final de sua vida dizia: Vaidade, tudo é vaidade! Temos uma compreensão equivocada da vaidade, acreditamos que ela se reflete apenas na nossa aparência. Contudo, ela vai muito além disso. A vaidade são nossas pretensas verdades, nossas máscaras e sentimentos de vazio preenchidos com nossas neuroses. Somos vaidosos, somos muito vaidosos. A avaliação que temos do mundo acaba partindo da nossa auto-imagem. Tenho a impressão que, às vezes, não somos capazes nem mesmo de escutar o que nos é dito. Sempre há um julgamento, sempre parecemos muito melhores do que somos diante de nosso espelho. Não devemos limitar-nos, não é isso. Devemos sim, desvelar nossas potencialidades, vencer o mecanismo que nos aprisiona em nossas mentes e comportamentos. Somos únicos , mas também, unos. Parafraseando Simone de Beauvoir o outro é ponto de partida. Aprendemos sobre nós, por isso, a necessidade de liberdade. Não deformarmos as relações, não nos intimidarmos diante dos outros. Eles são tão humanos quanto nós. A idealização do objeto é por nossa conta! O sofrimento também!

Transcender é possível


A idéia de transcender é inerente a condição humana. A principal via de crescimento é o amor. Sentir-se amado, amar-se, procurar dispensar atenção e sentimentos de consideração pelos demais, respeitando seus interesses e crenças proporciona uma co-existência pacífica. Temos, contudo, a necessidade de fortalecimento do ego. Quero evitar um discurso positivista, não é disso que se trata minha fala. Trata-se de um desejo de conhecer-se, encarar seus limites. O equilíbrio é uma conquista quotidiana, cheia de altos e baixos. Ora nos deixamos levar por linhas pessimistas baseadas em nossos medos, ora nos apercebemos de nossas possibilidades. Uma fonte para permitirmos a ênfase nas possibilidades está centralizada no quanto nos sentimos queridos e realmelmente importantes em nossas relações de afeto. Não se torna piegas referir-se aos sentimentos de amor. Junto a eles estão muitas questões para resolvermos, muitos temores a vencermos. Tudo está aí, posto. Somos uma história escrita, mas também, reescrita se assim o quisermos.

"No mundo nada mais existe a não ser o amor. Qualquer que ele seja." Pablo Picasso (imagem do quadro Les Demoiselles)

sábado, março 08, 2008

Non, Je Ne Regrette Rien (tradução)

Non, Je Ne Regrette Rien - Não, Eu Não Lamento Nada
Non, rien de rien - não, nada de nada
Non, je ne regrette rien - não, eu não lamento nada
Ni le bien qu'on m'a fait - nem o bem que me fez
Ni le mal, tout ça m'est égal - nem a dor, tudo aquilo
sou eu mesmo
Non, rien de rien - não, nada de nada
Non, je ne regrette rien - não, eu não lamento nada
C'est payé, balayé, oublié - nem o bem que está
acabado e esquecido
Je me fout du passé - eu tiro sarro do passado
Avec mes souvenirs - com minhas recordações
J'ai allumé le feu - eu acendi o fogo
Mes chagrins, mes plaisirs - minhas aflições, meus
prazeres
Je n'ai plus besoin d'eux - eu não os preciso mais
Balayés mes amours - meus amores idos
Avec leurs trémolos - com seus tremores
Balayés pour toujours - sempre esquecidos
Je repars a zéro - Eu parto com nada
Non, rien de rien - não, nada de nada
Non, je ne regrette rien - não, eu não lamento nada
Ni le bien qu'on m'a fait - nem o bem que me fez
Ni le mal, tout ça m'est bien egál - nem a dor, tudo
aquilo eu sou
Non, rien de rien - não, nada de nada
Non, je ne regrette rien - não, eu não lamento nada
Car ma vie, car mes joies - porque minha vida, minhas
alegrias
Pour aujourd'hui - para hoje
Ça commence avec toi - começam com você

Edith Piaf
O problema de mentir é que isso vai depender de o mentiroso ter uma clara noção da verdade a ser escondida. Nesse sentido, a verdade, mesmo aquela que não aparece em público, tem uma primazia sobre toda falsidade.
Hannah Arendt foi filósofa alemã naturalizou-se norte-americana (1906 - 1975)


Pensei profundamente sobre essa frase de Hannah Arendt. A questão da verdade parece tão distante de nossa realidade: o que recebemos de informações corresponde ou não àquilo que está de fato acontecendo? Falar sobre si mesmo, muitas vezes, se torna uma completa mentira. Como partidária da psicanálise percebo como usamos máscaras e é a árdua tarefa de retirá-las pois, muitas vezes, dependemos delas para sobreviver. Ontem, ouvi o presidente discursando sobre as mudanças a serem realizadas em algumas favelas no Rio de Janeiro através dos recursos do PAC. Fiquei dividida, não sabia o que pensar. Principalmente quando o mesmo se referiu a mudança de autoconceito dos moradores. Então, durante um momento, o repórter que narrava a matéria antecipou a preocupação em aproveitar o momento e inserir metas educacionais nesses ambientes tão excluídos. Acreditei um pouco mais na possibilidade de dar certo a ação do governo. O ser humano precisa aprender para evoluir em suas escolhas, para acreditar ser possível mudanças e pensar por si próprio em sua condição. A banalização do mal, como conceitua a filósofa Hannah Arendt, em minha opinião, está baseada no descaso e marginalização do homem. Nossos problemas sociais são imensos, as diferenças estabelecidas durante anos de corrupção e descaso construíram uma descrença na capacidade do indivíduo de transcender. Mais do que nunca, esgostos reais e imaginários devem ser tratados com interesse e persistencia para encontrar a liberdade de existir plenamente e sem mentiras. Espero, sinceramente, que as pessoas lutem por sua dignidade e não aceitem a barbárie a qual foram relegadas.

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Onde os fracos não tem vez

O filme "Onde os francos não tem vez" ganhador do Oscar neste ano é ótimo! Vale a pena assistir, porém, não com um olhar ingênuo. É uma crítica à sociedade da barbárie, traz reflexões profundas sobre a impotência da lei diante da perda de valores e entorpecimento das pessoas ditas comuns... O que vale, o que está em jogo e o que revela-se nas relações entre as pessoas? Discutir valores e ética na contemporaneidade é um fator preponderante para evitarmos o caos... ou a continuidade dele. Vejam o filme com olhos e ouvidos bem abertos, a violência de algumas cenas não é para entreter, mas sim, revelar!

sábado, fevereiro 23, 2008

O Haver
Vinicius de Moraes

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo- Perdoai-os!
porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir,
essa contemporaneidade com o amanhã
dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo,
e esse medoInfantil de ter pequenas coragens.
15/04/1962

Participar é preciso

Ontem fui a uma palestra proferida por um senador da República e algumas questões me chamaram atenção, são elas:
Sempre pensei que as duas principais causas que impedem o país de crescer eram a corrupção e alta carga de impostos. Foi exatamente o que o senador defeniu como razões.
A educação, acadêmica ou não, é essencial para a formação de uma nação forte capaz de desenvolver-se com sustentabilidade.

Ambas as colocações me reportaram a uma terceira questão. Vendo a sala quase vazia, cheia de cadeiras a serem aproveitadas por gente interessada e ávida por mudanças (pelo menos na minha imaginação!), fiquei matutando sobre o que está acoontecendo com a participação dos indivíduos em relação á sua cidade? A cidade na qual ocorreu a tal palestra, já foi um lugar própero e vantajoso empresarialmente... Mas, onde estavam os jovens que cobram postos de trabalho? Onde estavam os industriais que cobram a redução de impostos? Onde estavam os pequenos comerciantes? Onde estavam as famílias preocupadas com questões de segurança? Onde estavam toda essa gente que não ali, perguntando, se importanto com o que aquele homem (aparentemente honesto e bem intencionado) tinha a dizer? O tal senador recebeu um pingadinho de perguntas e a minha sensação era de algo estava errado. Ética e sabedoria na administração pública começam no voto, para votar tem que se interessar antes, durante e depois com o que se passa na esfera política. Não dá para ir até Brasília toda vez para perguntar ao presidente a quantas anda o seu governo, mas, quando na sua própria cidade há a possibilidade de indagar, participar e repensar a questão pública porque não ir lá conferir? Como vamos mudar algo sem interesse e atitude? Falação há e muita, ATITUDE reconheço poucas!

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Conversar e aprender a ser

A arte de conversar parace estar fadada ao superficialismo. A interessante arte é um meio de transmitir conhecimentos e trocar culturas, é uma forma de educar e reconhecer as individualidades e desejos mais latentes. Isso nos ajuda a agir de um modo mais construtivo perante o outro e si mesmo. Avaliamos melhor nossas atitudes e sinceramente aprendemos a nos afastar de situações crítcas porque reconhecemos melhor as dificuldades no momento em que dialogamos. Um diálogo verdadeiro revela-se em falar e ouvir. Sentir o que de fato o outro traz em seu discurso, "a que veio". A psicologia trabalha com o discurso e acima de tudo capacita o sujeito a ser capaz de entender através dele sua postura de vida e das pessoas que o cercam. Falar e ouvir é uma arte, não tenho observado esse momento ser um encontro real entre as pessoas. A palavra gera ação e nosso cérebro responde àquilo que lhe é "dito" conscinte ou inconscinte. Manter bons companheiros para conversar, ouvir mais o que está em nossa volta, os ruídos, os tumultos, as manifestações de afeto, raiva, alegria... Ensina muito ampliando nossa conduta, o que gera tranformações porque incluí o aprendizado. O encontro é sempre importante, comunicar é uma forma de crescimento. Interessante como a comunicação se mostra um grande engodo quando representa somente nosso egoísmo. A palvra é amor e amor é construção contínua. Os grandes mestres nos proporcionaram discursos maravilhosos e através deles pudemos nos perceber mais humanos, mais capazes de ser melhores. Primordial respeitar o outro quando do encontro em um diálogo de seres que são espirituais (não no sentido religioso, mas sim, na concepção de transcender). Os valores são passados na tradição oral nas famílias, obviamente as atitudes também os refletem. Porém, o discurso é essencial para a compreensão desses pilares que organizam nossa vida em sociedade. Formar círculos de conversas para refletir temas é uma forma motivadora de educar-se.

Uma pessoa para compreender tem de se transformar.(Saint-Exupéry)

sábado, fevereiro 16, 2008

Vaga-lume

Vaga-lume em vagação
Num vagalhão de sentimentos
Pisca-apaga
Apaga-pisca
Risca na escura noite
Alguma esperança de
criança brincando
fazendo lambança
nem aí se suja a roupa
se arranha o joelho
se o amigo é
João, Maria ou Pedro
Posto que só o chama de amigo
Vaga-vaga-vaga
Vaga-luz
Acende e não se apaga
dentro mim

por Cristiane França

A força da criança é incontestável. Vem com rostinho dengoso, ar desprotegido e vai levando o coração da gente... Assim, sem pedir, sem querer, sem saber... A conexão com a criança nos torna mais serenos porque lembra-nos a fragilidade e o milagre de nossa existência. Quando percebo as crianças sendo afastadas da infância, empobrecidas em seus jogos, imagino: o que estamos pretendendo com isso? Reflito: se não há paciência com as crianças, o que resta para nós adultos?
Cantem para suas crianças, despertem os anjos e adormeçam os demônios!

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Auto-estima e desenvolvimento

A forma como pensamos na educação de nossas crianças envolve um fator importante, a auto-estima. É essencial que nossas crianças sejam percebidas através de suas potencialidades e essas sejam trabalhadas em seu desenvolvimento. As palavras são tão poderosas quanto as atitudes, através da atenção ao que traz a criança em seu repertório linguístico se pode perceber o modo dela estar no mundo. Mas, vale lembrar que perceber exige uma atitude posterior em abrir possibilidades novas para melhoria do desempenho e potencial.
A auto-estima está relacionada com o autoconceito que são os julgamentos sobre si próprio suas habilidades e capacidades (BEE, 1977). Pensar bem de si próprio significa uma auto-estima alta reconhecendo valor em suas habilidades pessoais, transferindo-se respeito e consideração:

Mas, grande parte de seu autoconceito, o grau de auto-estima, é favorecido em sua percepção do que as outras pessoas pensam dela. Por exemplo, uma criança pode ser considerada desajeitada porque ela foi assim chamada ou porque sua ocasional falta de coordenação tem sido excessivamente enfatizada. (BEE, 1977, p.221)

A interação entre emoção e raciocínio na formação do pensamento corrobora para a construção do grau de auto-estima que interfere no desenvolvimento da aprendizagem.
É claro que o desenvolvimento do autoconceito é um importante evento evolutivo O que a criança sabe e acredita que ela seja afetará todas as suas interações com os outros e, por influência o tipo de coisas que a criança irá tentar. O auto-conceito pode ter efeitos bastante amplos sobre o desenvolvimento de novas habilidades. (BEE, 1977, p.221)
Portanto, a interação entre emoção e raciocínio contribuí para a construção da auto-estima que, por sua vez, interfere no desenvolvimento da aprendizagem. Entendendo auto-estima como uma forma pró-ativa perante o mundo que cerca o indivíduo, uma capacidade de impor-se diante de um problema de modo positivo, um olhar de consideração sobre si mesmo, ou simplesmente amor próprio, serão essas experiências positivas pelas quais passa a criança em seu desenvolvimento que lhe trarão a certeza de uma auto-estima preservada.

BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. São Paulo: Editora Harbra, 1977.

E. E. Cummings 1894-1962

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram, ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado, eu e minha vida nos fecharemos belamente, de repente, assim como o coração desta flor imagina a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo igual ao poder de tua imensa fragilidade: cuja textura compele-me com a cor de seus continentes, restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha e abre; só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas) ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
( tradução: Augusto de Campos )

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Amor romântico


Vou dar um "pulinho" no amor romântico e postar um poema que ouvi declamado em uma certa ocasião em que participei de curso acerca da poética de Gregório de Matos "O Boca de Inferno". Para minha pasmada ignorância era um poema romântico, assim como outros tantos que escreveu. Sei que lê-lo não trará a beleza daquela declamação que presenciei, mas, de qualquer modo, vale muito redescobrir essas peças raras. Aqui vai:

Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara

De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,

Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,

Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

O amor da sabedoria tem falta de amor

A sabedoria deve saber que traz em si uma contradição: é louco viver muito sabiamente. Devemos reconhecer que, na loucura que é o amor, há a sabedoria do amor. O amor da sabedoria - ou filosofia - tem falta de amor. O importante, na vida, é o amor. Com todos os perigos que carrega. Isto não é suficiente. Se o mal de que sofremos e fazemos sofrer é a incompreensão de outrem, a autojustificação, a mentira de si próprio (self-deception), então a via da ética - e é aí que introduzirei a sabedoria - está no esforço de compreensão e não na condenação - no auto-exame que comporta a autocrítica e que se esforça por reconhecer a mentira de si próprio.
Edgar Morin, in 'Pode Haver uma Sabedoria Moderna ? (Conferência)'

Hoje, apenas, gostaria de refletir sobre o amor. Aquilo que nos faz pensar em reconciliar-se conosco mesmos e manter em equilíbrio nossas relações. Aquilo que vai além da vaidade, da visão de lucro e interesse. Há um momento em nossa vida que nos flagramos dessa realidade, não ser tão sábios, tão úteis e tão competentes, apenas nos inclinarmos a frágil condição humana e dirigir a quem realmente precisa um gesto, uma palavra, uma atitude amorosa. Não grandes atitudes, não grandes gestos! Aquilo que nossa realidade permite, aquilo que nossa condição política e social exige. Atitude!

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Meu pai, uma pessoa muito sábia, sempre foi um grande leitor. Na minha meninice fui uma ouvinte admirada de suas reflexões, geralmente durante as refeições, quando citava grandes pensadores e filósofos. Uma dessas ocasiões ficou guardada no íntimo como um verdadeiro tesouro. Tratava-se da obra Os Miseráveis de Victor Hugo (1802-1885) e as agruras passadas por seu personagem central Jean Valjean preso por roubar um pão. Comenta meu pai, na época, o quanto é infeliz um homem que não possuí um trabalho para conquistar seu pão. Há uns dias atrás outra reflexão me vem às mãos, agora de Khalil Gibran: "Trabalho é amor tornado visível". Um pouco mais recente, em uma ida ao cinema assistir "Meu nome não é Johnny" (aliás, recomendo), durante seu julgamento, a juíza pergunta ao jovem "Você trabalha em que?" (ou algo muito próximo a isso). A Gazeta do Povo, neste último domingo, publicou uma reportagem excelente (porém triste) sobre jovens e mercado de trabalho. A difícil lida dos jovens em encontrar trabalho e a desistência dos estudos. Comecei a fazer relações, links... Como abordei anteriormente o mito de Hefesto, concluí que isso também se tratava de uma rejeição na formação e orientação dos jovens a uma profissão, ou melhor, trabalho. A possibilidade de ser útil, produtivo, sentir-se respeitado e consequentemente, criar novos valores sociais perpassa pela questão do trabalho. Nosso país, acredito eu, tem continuamente através da mídia invertido valores em nossos jovens. O prazer imediato, possuir acima de ser, leis não cumpridas... Qual orientação seguir? Qual rumos tomar? O que é o trabalho na vida de um jovem das classes mais baixas? Certa de que existem programas de formação, como liceus do ofício, menor aprendiz... Mas, penso na necessidade de despertar valores, descobrir novos pesquisadores, leitores mais ávidos, pessoas que entendam que o trabalho é uma construção social e individual. Além disso, que é através do trabalho que se repensa a condição das cidades, no transporte, na saúde ... O trabalho é central na vida de um homem, deveria ser sua fonte de sobrevivência e dignidade.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Livro da Sabedoria

Porque o medo não é outra coisa senão o desamparo da reflexão.
(Livro da Sabedoria, 17,12)

Vínculos

A concepção de pertencimento gera a sensação de vínculo. Estar vinculado significa reconhecer e ser reconhecido por um determinado grupo. Emílio (2005, p 61-69) discute em seu artigo o conceito de vínculo através da mitologia grega:

“A figura mitológica que parece melhor representar o conceito de vínculo é a de Hefesto, o deus coxo, aquele que tem o poder de atar e desatar, o xamã dos nós. Brandão (1995) afirma que, como símbolo, Hefesto parece traduzir uma personagem descompensada. Se por um lado, era deformado, foi desprezado pelo pai e pela mãe (Zeus e Hera), por outro, desposou a mais bela das deusas, Afrodite, uniu-se, também a Cáris, a mais linda das Graças e amou Aglaia, a mais jovem das Cárites. Descrito como artista incomparável, mestre consumado nas artes do fogo e extremamente habilidoso - pois modelou Pandora do limo da terra - quando se sente traído ou desprezado, aparece como um ser amargo e vingativo, pois, entre outras coisas, fabrica um trono de ouro em que aprisiona sua mãe, elabora uma fina teia para ridicularizar Ares e Afrodite, denunciando o adultério da esposa, e acorrenta Prometeu.
(...) Assim como no mito, o vínculo pode significar um laço, uma ligação, mas conter também os nós, o que nos amarra, o que é difícil de desfazer; pode ser um elemento de agregação no grupo, mas funcionar, também, como promotor de cisões, rupturas e exclusões.
Um aspecto que é apontado por Amaral (1991) refere-se ao isolamento de Hefesto, que vive na Terra, diferentemente das demais divindades, que vivem no Olimpo. Podemos pensar inicialmente que a grande questão aqui seria que ele teria que conviver com as suas diferenças, ao se deparar com os demais deuses. No entanto, a convivência em grupo, ao nos colocar em contato com as nossas diferenças, também nos faz conviver com o que há de semelhança, mas aquela à qual não queremos ou podemos reconhecer e diz respeito às nossas limitações, lacunas e imperfeições. Feito Hefesto, buscamos o isolamento para não olharmos para nossos espelhos.” (EMÍLIO, 2005, p 61-65)


O vínculo, como descreve a autora, também traz o reconhecimento das diferenças e a percepções de nossas limitações perante o outro. Nessas três esferas, a familiar, a escolar e a social os conflitos podem surgir a partir dessas percepções, ocasionar crescimento e desenvolvimento ou gerar cisões. Discutir as diferenças em grupo não é tarefa fácil, tornando-se angustiante quando incluímos fatores de risco nessas relações. Pensar nas questões que envolvem riscos, também é pensar sobre educação. São aspectos relacionados, uma conseqüência comum no ropimento de vículos familiares ou sociais, é o rompimento com a escola. A escola reproduz uma cultura vigente, representa suas principais características e valores. Quando tratamos de uma escola que, apesar de muito discutida, não está alcançando seu objetivo maior de gerar uma vida mais feliz promovendo a elevação do nível dos indivíduos intelectual, moral e espiritualmente deixamos expostas nossas limitações como adultos responsáveis em formar uma sociedade melhor. Declinamos em nossa responsabilidade inúmeras vezes, negamos Hefesto como Hera e Zeus o fizaram. A resposta, infelizmente, é o espírito vingativo de Hefesto sobre a rejeição que sofreu. Ele foi traído em seu amor filial, em seu amor de marido (por Afrodite) e sua vigança está justamente centralizada na dor da rejeição. Crianças e jovens, sentem-se tão traídas quanto Hefesto quando sua educação é relegada a uma qualidade baixa. Aliás, nivelamos por baixo a educação quando não se discute concretamente a remuneração do professor (aqui outro momento poderemos discutir). Qual é nosso desejo na construção de humanidade que leve à sério valores, que se sinta reconhecida neles? São justamente esses valores que norteiam os limites, que indicam o grau de agressão e desprezo pela vida. Qual o sentido da manipulação de necessidades inúteis que apenas consomem emocionalmente os jovens. Certamente, existem pensadores e ações sendo realizadas em um movimento para buscar soluções aos problemas atuais. Necessário seria, que pais, sociedade e escola integrassem saberes. Não omitissem suas responsabilidades. Não negassem Hefesto como filho.

EMÍLIO, S. A. . Os vínculos na Inclusão escolar: sobre laços, amarras e nós. Vínculo Revista do NESME, São Paulo, v. 02, n. 02, p. 61-69, 2005.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Gadotti (2000) faz uma reflexão sobre as bases do processo educacional com referência à Jacques Delors (1998) e a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida. Os quatro pilares para orientar esse tipo de educação são:

Aprender a conhecer: Prazer de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade, autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe uma cultura geral, o que não prejudica o domínio de certos assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que aprender a aprender. Aprender mais linguagens e metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas "pensar pensamentos", pensar o já dito, o já feito, reproduzir o pensamento. É preciso pensar também o novo, reinventar o pensar, pensar e reinventar o futuro.
Aprender a fazer: È indissociável do aprender a conhecer. A substituição de certas atividades humanas por máquinas acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou de ser puramente instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje a competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar novas situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe, do que a pura qualificação profissional. Hoje, o importante na formação do trabalhador, também do trabalhador em educação, é saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial. Existem hoje perto de 11 mil funções na sociedade contra aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas universidades. Como as profissões evoluem muito rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para um trabalho.
Aprender a viver juntos, a viver com os outros: Compreender o outro, desenvolver a percepção da interdependência, da não-violência, administrar conflitos. Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter prazer no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa é a tendência. No Brasil, como exemplo desta tendência, pode-se citar a inclusão de temas/eixos transversais (ética, ecologia, cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares e trabalho em projetos comuns. Aprender a ser: Desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa. Para isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico-matemática e lingüística. Precisa ser integral (Gadotti, 2000, p 3-11).


A escola, desde as primeiras séries até a universidade, diante desses pilares apresentados, necessita ser reinventada. Como havia feito referência anterior no paradigma emergente dos 4 pilares para uma nova educação, concluí que, a explicação de Gadotti seria conveniente nesse momento. O novo paradigma exige uma postura crítica do ser humano no mundo e diante das problemáticas que surgiram a medida que esse tornou-se cada vez mais complexo. Questões éticas, de valores, de co-existência, tecnologias, trabalho, ambientais, entre outras, estão continuamente exigindo reflexões e ações. A urgência de novos caminhos para a aplicação de uma educação criativa, reveladora do potencial humano não é uma fantasia de sonhadores, opera no sentido da própria sobrevivência do homem no planeta. A escola que não possui essa visão integrada do ser humano em sociedade e não reflete questões envolvidas nas situações familiares e suas implicações na vida acadêmica do estudante, torna-se dissonante na construção de um ser inteiro capaz de assumir seu papel na sociedade de forma equilibrada e responsável. O paradigma inovador emergente tem enfoque no pensamento complexo, na visão de globalidade e holística, no processo sistêmico em redes interconectadas. Existe a busca de uma sociedade mais justa e igualitária.

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo, Cortez, 1998.

GADOTTI, MOACIR. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec., Jun 2000, vol.14, no.2, p.03-11. ISSN 0102-8839

A arte de perder

“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério. “

por Elizabeth Bishop

sábado, fevereiro 02, 2008

Paradigma emergente

Thomas Kuhn é o primeiro a falar em seu livro “Estruturas das revoluções científicas” sobre paradigmas. Após, em 1987 Boaventura Santos falou sobre paradigma emergente, em 2000 Edgar Morin e Capra falam sobre paradigmas da complexidade.

Antes é preciso esclarecer o conceito de paradigma que estamos utilizando. Primeiramente remetamos-nos a Kuhn, filósofo e historiador da ciência, introdutor de modificações importantes na maneira de compreender a ciência. Para ele paradigma significa “a constelação de crenças, valores e técnicas partilhadas pelos membros de uma comunidade científica”. (1994, p 225) Paradigma refere-se a modelo, padrões compartilhados que permitem a explicação de certos aspectos da realidade. È mais que uma teoria, implica uma estrutura que gera novas teorias. É algo que estaria no início das teorias. (MORAES, 1998, p 31)

O paradigma inovador emergente tem enfoque no pensamento complexo, na visão de globalidade e holística, no processo sistêmico em redes interconectadas. Traz a necessidade de novas aprendizagens para o século XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, e aprender a ser. Existe a busca de uma sociedade mais justa e igualitária.

O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo com um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominada visão ecológica, se o termo “ecológica” for empregado num sentido muito mais amplo e mais profundo que o usual. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos). (CAPRA, 1996, p 25)

São através desses processos interconectados que o pensamento humano poderá criar uma nova forma de compreender sua existência, as novas tecnologias disponibilizam a possibilidade de ultrapassar barreiras culturais. Os processos comunicacionais são o alargamento da visão de mundo porque estão baseados em velocidade e alcance cada vez mais amplos. O que não podemos mais é deixar de refletir acerca do modo que ocupamos e usufruímos de nosso planeta. A ciência deverá refletir por meio de seus representantes o conceito de uma nova moralidade, de uma nova ética que verdadeiramente considere os anseios humanos. Sem que essas desprestigiem ou desrespeitem a vida. Qual o alcance desse entendiimento no campo educacional, como em nosso país os educadores poderão fazer em sua experiência um elo de ligação entre o pensamento emergente e a precariedade humana? Como farão esses educadores para respeitar o ser como único e capaz de representar também o coletivo? Quais são os espaços que podem celebrar tal mudança? A escola assume quais responsabilidades diante dessas questões? Muitas perguntas podem surgir e algumas sem respostas estruturadas, mas, cabe a cada um pensar sobre seu papel e participar efetivamente de suas comunidades. A omissão é, certamente, o primeiro passo para cegar-se diante da realidade.

CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996.
MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. Campinas: Papirus, 1998.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Avós

Hoje, gostaria de me desculpar e não seguir na discussão de paradigmas como havia sugerido fazer. Quero falar de algo mais simples: as avós. A minha, em especial, chamava-se Maria (simplesmente). Uma mulher silenciosa, quase não recordo o tom de sua voz. Sinto que perdi a grande oportunidade de amá-la, compreendê-la e receber um pouco de sua sabedoria. A história dela é de uma mulher comum, melhor dizer, incomum! Acompanhou meu avô, José, na aventura de encontrar uma nova terra, riquezas... Assim viveu, até mesmo no meio da floresta amazônica! Mas, do que quero falar é de sua maneira de silenciar, de resignar. Ela formou uma família extensa, teve cinco filhos. A única mulher minha mãe. Talvez, não foi à toa sua escolha pelo nome de minha mãe: Leonarda, "forte como um leão". Assim, é minha mãe... A mãe de minha mãe soube ensinar, ensinou minha mãe a ser forte. O amor é assim, fornece lições. Devemos saber entendê-las. As avós são fontes de conhecimento e sabedoria, são nossas referências de laços primitivos. Aproveitar essa relação em nossa jornada é um privilégio. É desvendar o mistério do feminino. Em minha avó, talvez, a maior lição que tenha aprendido, quase sem querer, foi a sabedoria de aceitar os designíos da vida. Talvez, não resignar-se como ela fez em sua caminhada, mas, fazer deles grandes lições de aprendizado.

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Metades

As mãos sabem de seus nós:
quando em aliança, constroem a seu tempo.
Se apenas tato sentem o momento no infinito e alheio espaço que desenharam para si.
Outras mãos sabem, porém, que não formam nós.
Desatam (as dores, os dissabores...).
Não ropem, desatam...
No jardim plantam rosas e vivem impregnadas de seu perfume.
Não são as rosas, não são as sementes.
Nem mesmo a terra são.
Mãos de Assis...
Mãos, ir terão: irmãos.

por Cristiane França
Por que acreditar? Por que viver? Qual o sentido de estarmos aqui? Uma certa vez, em conversas com uma médica conhecida, ela me disse que nos é necessário ter um propósito, um sentido para a existência. Existe um livro muito interessante de Viktor Frankl (1905-1997), fundador da Logoterapia, (FRANKL, Vicktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Editora Vozes, 1991.), que trata exatamente disso: SENTIDO. Não sou conhecedora dessa Escola de Psicologia para discorrer acerca de seu referencial teórico. Contudo, a idéia de encontrar um sentido para a vida me encanta. Não me refiro ao sucesso apregoado pela mídia que mais parece uma elegia à barbárie. Apenas falo dessa forma tranqüila de fazer escolhas que nos signifiquem algo. É preciso ter um sentido sagrado do humano, não somos o centro do universo, mas, somos parte integrante dele, de algum modo podemos contribuir. Não sei bem onde li/ouvi que vemos os outros conforme nos vemos interiormente, confiamos à medida que acreditamos em nossas próprias intenções. Não estou querendo afirmar nada, porém, me parece que perdemos esse sentido coletivo. O que lhe impede de fazer algo? O que lhe impede de crer? A vida é plena de amor, um sentimento sutil que pode envolver a todos. AME! PERDOE! AME!

Daquele canto

Daquele canto,
Sairam, enfim,
os encantos.
Do olhar,
Cessou o pranto.

por Cristiane França
"Existem experimentos em neuroanatomia e neurofisiologia que demonstram que o sistema nervoso só começa a registrar estímulos a partir do momento em que esses começam a ter significado. Se não compreendemos o que vemos, não o vemos, ou seja, é preciso crer para ver, e não como se diz geralmente ver para crer. Portanto, a maneira como descrevemos o que acontece pode inibir ou facilitar sua percepção."
VASCONCELLOS, Maria José Esteves de. Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas, Papirus, 2002.

Mais tarde gostaria de falar do paradigma emergente e Thomas Khun (1962), porém, nesse momento o que me inspira é a questão de nossas crenças. A reflexão apresentada acima implica (e como!) na responsabilidade que temos com nossas crianças e jovens. No que fazemos para que estes formem suas opiniões acerca do planeta e dos valores humanos. Quais nossas próprias crenças? Se estamos falidos emocionalmente, como educar? Se estamos pouco movidos em melhorar a qualidade de vida em nosso planeta, como fazer que nossas próximas gerações se interessarem pela manutenção de hábitos positivos? Se não acreditamos no amor, como ensimar a amar? Isso mesmo "ensinar a amar". O amor se aprende, se constrói além de nossos limites e através deles: limites pulsionais, limites sociais, limites emocionais.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

A alma Humana

A alma humana é como a água: ela vem do Céu e volta para o Céu, e depois retorna à Terra, num eterno ir e vir. (Goethe)
"Deus não nos deu espírito covarde, deu-nos espírito de força, de amor e bom senso."
2 Timóteo 1:17 KJV

Todos temos a incrível capacidade de nos comunicar entre nós. Através dessa mágica capacidade podemos levar aos amigos, colegas, crianças, jovens... a expressão da palavra suprema: o amor. Comunicar a sutil presença do amor em nossas vidas e transformar no gesto provedor as barreiras em acesso. Penso que todos estamos aqui para contemplar e evoluir. Contemplar as admiráveis formas criadas na natureza para alegria de nossos sentidos e evoluir para o bem comum. Um mundo mais justo, menos violento. Um mundo que embale nossas crianças, que permita que todas possam ter o sustento afetivo e material a que tem direito. O espírito de força, de amor e de bom senso foi dado ao homem para que aprenda por sua própria vontade a arte de conviver!

para refletir e comentar

“Só aquilo que somos tem o poder de curar-nos.“
C G Jung CW 7/II : 258

Uma nova forma de comunicar

Queridos amigos;

Estou experimentando uma nova forma de me comunicar! Não sou nada "expert" em manipular certas ferramentas na web. Mas, estou aprendendo... Assim é a vida, experimentar para descobrir nossas capacidades. Vou procurar manter neste espaço temas de discussão que interessem a todos, principalmente, na questão educação. Fica o convite para todos postarem seus comentários e contribuírem!
Abraços;
Cristiane França.