sábado, fevereiro 23, 2008

O Haver
Vinicius de Moraes

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo- Perdoai-os!
porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir,
essa contemporaneidade com o amanhã
dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo,
e esse medoInfantil de ter pequenas coragens.
15/04/1962

Participar é preciso

Ontem fui a uma palestra proferida por um senador da República e algumas questões me chamaram atenção, são elas:
Sempre pensei que as duas principais causas que impedem o país de crescer eram a corrupção e alta carga de impostos. Foi exatamente o que o senador defeniu como razões.
A educação, acadêmica ou não, é essencial para a formação de uma nação forte capaz de desenvolver-se com sustentabilidade.

Ambas as colocações me reportaram a uma terceira questão. Vendo a sala quase vazia, cheia de cadeiras a serem aproveitadas por gente interessada e ávida por mudanças (pelo menos na minha imaginação!), fiquei matutando sobre o que está acoontecendo com a participação dos indivíduos em relação á sua cidade? A cidade na qual ocorreu a tal palestra, já foi um lugar própero e vantajoso empresarialmente... Mas, onde estavam os jovens que cobram postos de trabalho? Onde estavam os industriais que cobram a redução de impostos? Onde estavam os pequenos comerciantes? Onde estavam as famílias preocupadas com questões de segurança? Onde estavam toda essa gente que não ali, perguntando, se importanto com o que aquele homem (aparentemente honesto e bem intencionado) tinha a dizer? O tal senador recebeu um pingadinho de perguntas e a minha sensação era de algo estava errado. Ética e sabedoria na administração pública começam no voto, para votar tem que se interessar antes, durante e depois com o que se passa na esfera política. Não dá para ir até Brasília toda vez para perguntar ao presidente a quantas anda o seu governo, mas, quando na sua própria cidade há a possibilidade de indagar, participar e repensar a questão pública porque não ir lá conferir? Como vamos mudar algo sem interesse e atitude? Falação há e muita, ATITUDE reconheço poucas!

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Conversar e aprender a ser

A arte de conversar parace estar fadada ao superficialismo. A interessante arte é um meio de transmitir conhecimentos e trocar culturas, é uma forma de educar e reconhecer as individualidades e desejos mais latentes. Isso nos ajuda a agir de um modo mais construtivo perante o outro e si mesmo. Avaliamos melhor nossas atitudes e sinceramente aprendemos a nos afastar de situações crítcas porque reconhecemos melhor as dificuldades no momento em que dialogamos. Um diálogo verdadeiro revela-se em falar e ouvir. Sentir o que de fato o outro traz em seu discurso, "a que veio". A psicologia trabalha com o discurso e acima de tudo capacita o sujeito a ser capaz de entender através dele sua postura de vida e das pessoas que o cercam. Falar e ouvir é uma arte, não tenho observado esse momento ser um encontro real entre as pessoas. A palavra gera ação e nosso cérebro responde àquilo que lhe é "dito" conscinte ou inconscinte. Manter bons companheiros para conversar, ouvir mais o que está em nossa volta, os ruídos, os tumultos, as manifestações de afeto, raiva, alegria... Ensina muito ampliando nossa conduta, o que gera tranformações porque incluí o aprendizado. O encontro é sempre importante, comunicar é uma forma de crescimento. Interessante como a comunicação se mostra um grande engodo quando representa somente nosso egoísmo. A palvra é amor e amor é construção contínua. Os grandes mestres nos proporcionaram discursos maravilhosos e através deles pudemos nos perceber mais humanos, mais capazes de ser melhores. Primordial respeitar o outro quando do encontro em um diálogo de seres que são espirituais (não no sentido religioso, mas sim, na concepção de transcender). Os valores são passados na tradição oral nas famílias, obviamente as atitudes também os refletem. Porém, o discurso é essencial para a compreensão desses pilares que organizam nossa vida em sociedade. Formar círculos de conversas para refletir temas é uma forma motivadora de educar-se.

Uma pessoa para compreender tem de se transformar.(Saint-Exupéry)